Tenho
medo de me perder, perder na estrada, no caminho, na vida, no destino. E tenho
medo porque me perco facilmente e demasiadas vezes. Sigo para a esquerda quando
devia ter seguido para a direita. Admiro aquelas pessoas que se perdem e não
temem esse perder, dizem com a maior confiança “hei-de ir dar a um lugar que
conheço”. Mas eu, sei que nunca vou dar a um lugar que conheça, porque a dada
altura, tudo me é estranho, novo, assustador. Simplesmente porque o observo por
outra perspectiva, de outro lugar ou porque é noite e à noite tudo é escuro,
desconhecido, quase tenebroso.
Comprei
um GPS, coloquei-lhe um destino e fui, ultrapassando o medo e a dúvida de
conseguir chegar, mas perdi-me de novo, agora não foi culpa minha, garanto, mas
de algum satélite mal ajustado, talvez também ele tenha problemas de orientação
no céu onde tudo parece igual e é infinitamente diferente.
Não
desisti, procurei amigos que soubessem o caminho e fomos, eles sem rumo, eu
acreditando que o tinham, perdemos-nos, algures na vida, algures no tempo,
algures num lugar, num momento. Não os culpo, já basta de culpas. São opções,
certas ou erradas logo se verá e quando se vir, vivemos bem ou mal com as nossas
escolhas, um dia serão apenas histórias.
Até
ao dia em que por labirintos onde gosto de me perder, me vá encontrar,
descobrir. Desenhei-me em mapa com traços do olhar, quase auto-retrato, quase
metáfora de existir. Procurava longe o que estava aqui, por isso ia e me perdia.
Percebi finalmente que não era perder que me fazia ter medo mas o próprio medo
em si, então perdi-o e fui eu por inteiro, longa, inteira, intensa, Como se eu fosse feita de quilómetros,
numa via rápida onde vou perdendo as saídas mas ganhando cada vez que me atrevo
a entrar e a encarar a multiplicidade do horizonte infinito.
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