O
meu amanhecer é à noite, quando só as estrelas me olham e partilham comigo esse
olhar de quem tem tempo para ficar, de quem tem tempo para brilhar. Então,
a lua parece sorrir-me, um sorriso de
quem entende, um sorriso de quem se estende em neblinas de escuridão, em névoas
de solidão.
A
solidão, pobre palavra tão maltratada, tão dolorosamente magoada, porque dói,
dizem. Porque mata, defendem. Mentira! Mentira, garanto-vos. Como é terna a
solidão, quando o seu silêncio nos envolve no mais doce abraço.
Então
o corpo dolente de tempos idos, deixa-se navegar nos pensamentos, longe, cada
vez mais longe dos lamentos. Dando-se ao luxo de sentir. De se sentir invadido
por uma paz conciliadora dos sentidos, como quando a alma e o espírito se casam
e prometem ser felizes para sempre.
Num
para sempre, que dura… O que durar. Mas enquanto dura, permite-nos num
vislumbre de felicidade, contemplar o infinito. Esse finito que agora, liberto
dos limites do horizonte espraia-se para além do existir condensado em nós. E
nós, os que reverenciam a noite como se nos fosse madrugada, tornamo-nos
estrelas, solar de lua, luminosa escuridão e agradecemos cada sensação que só o
silêncio, que só a solidão consegue ouvir com o coração…
Nota de rodapé: escrito antes da era Polinho. :)
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