Viver
significa caminhar em frente enquanto outros ficam para trás ou desencontram-se
da nossa direcção. Ficam ou vão, nós prosseguimos sem eles, outras vezes com
eles, na memória, no coração.
Uns amamos, outros apenas pouco mais conhecemos
que o rosto, o nome, desconhecemos a sua história, a sua experiência de vida,
as suas alegrias, as suas tristezas, de onde vêm, como aqui chegaram, mas mesmo
esses, ao partirem, doem-nos algures no corpo.
Como
se de alguma forma fizessem parte de nós e fazem, fizeram-nos rir, chorar,
escreveram ou representaram papeis que marcaram os nossos momentos, cruzaram-se
com os nossos dias, na paragem do autocarro, no café, no cabeleireiro, eram a
caixa do supermercado onde vamos todas as semanas, estavam na papelaria onde
vamos buscar o jornal, na padaria onde compramos o pão, algures num ponto de
intersecção do nosso caminho.
Amigos,
colegas, professores, vizinhos, conhecidos, desconhecidos, todos, tantos…
Doem-nos,
talvez porque partem demasiado cedo ou porque já os “conhecemos” há tanto tempo
que criaram raízes na nossa história. Talvez pela forma como lhes “roubam” a
vida, porque deixam de ilustrar a rotina da cada manhã, de cada anoitecer ou no
fundo, num inconfessado sentimento; doem-nos porque de alguma forma nos
relembram da nossa própria precariedade.
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