Neste
barco onde navego pelos mares do pensamento, vou ao leme conduzindo ou
deixando-me conduzir. Por vezes em águas tranquilas, por vezes, atravessando bravias
tempestades, vou ao leme (como quem nada teme), forte e firme no meu destino.
Ergo as velas tento ir por ali, mas logo o vento me direcciona noutro sentido.
Sonho com um cais onde aportar o sentir. Busco ilhas onde ancorar os sentidos,
mas continuo a navegar. Continuo a naufragar, aqui e além nesta épica ventura
de viver.
Quem sabe surja um farol que me erga proa da esperança e me indique
um mar mais sereno onde posse aportar a vida. Até lá, permaneço à deriva, até
lá, vou-me navegando no que sou, até um dia, um qualquer dia, ano, hiato de
tempo, descobrir finalmente para onde vou. Ou quem sabe, como qualquer
marinheiro de semelhantes águas, descubro um dia que sempre estive no lugar
certo, que este é o meu cais, que este é o meu porto seguro.
Esteve sempre aqui
para mim e eu que estendia o olhar para lá do horizonte estive “cega” de
desejos, aspirações, sonhos, fantasias, ilusões, perdendo a oferta generosa da
realidade que me estava, afinal, tão perto.
Faz
parte de nós o navegar, faz parte de nós esta inquietude de quem precisa de
estar sempre mais além.
Onde? Saberemos quando lá chegarmos, mesmo que esse
lugar seja este onde sempre estivemos, será novo, e por isso mesmo aquele que
procurámos a vida inteira. Porque não o vimos antes, porque não o sentimos
antes? Porque era preciso viajar, viajar muito dentro de nós para chegarmos ao
que somos. Isso leva tempo, por vezes muito tempo, depende… dos ventos e das
marés.