quinta-feira, 4 de junho de 2015

Post.it: Ventos e marés

Neste barco onde navego pelos mares do pensamento, vou ao leme conduzindo ou deixando-me conduzir. Por vezes em águas tranquilas, por vezes, atravessando bravias tempestades, vou ao leme (como quem nada teme), forte e firme no meu destino. 
Ergo as velas tento ir por ali, mas logo o vento me direcciona noutro sentido. Sonho com um cais onde aportar o sentir. Busco ilhas onde ancorar os sentidos, mas continuo a navegar. Continuo a naufragar, aqui e além nesta épica ventura de viver. 
Quem sabe surja um farol que me erga proa da esperança e me indique um mar mais sereno onde posse aportar a vida. Até lá, permaneço à deriva, até lá, vou-me navegando no que sou, até um dia, um qualquer dia, ano, hiato de tempo, descobrir finalmente para onde vou. Ou quem sabe, como qualquer marinheiro de semelhantes águas, descubro um dia que sempre estive no lugar certo, que este é o meu cais, que este é o meu porto seguro. 
Esteve sempre aqui para mim e eu que estendia o olhar para lá do horizonte estive “cega” de desejos, aspirações, sonhos, fantasias, ilusões, perdendo a oferta generosa da realidade que me estava, afinal, tão perto. 
Faz parte de nós o navegar, faz parte de nós esta inquietude de quem precisa de estar sempre mais além. 
Onde? Saberemos quando lá chegarmos, mesmo que esse lugar seja este onde sempre estivemos, será novo, e por isso mesmo aquele que procurámos a vida inteira. Porque não o vimos antes, porque não o sentimos antes? Porque era preciso viajar, viajar muito dentro de nós para chegarmos ao que somos. Isso leva tempo, por vezes muito tempo, depende… dos ventos e das marés.