“O
bem não faz barulho e o barulho não faz bem”.
Ouvi
esta frase, que quase parece um trocadilho, há muito anos, tocou-me fundo no
peito, moldou-me os sentidos, fez-me crescer num repentino despertar de
aprendizagem.
Quem
me dera que me tivesse sido dita antes, muito antes, quando ainda mal soletrava
as letras, quando o mundo se revelava meu e eu ingenuamente, egoisticamente
acreditava. Segui pela estrada fora exigindo a vassalagem das pedras, subordinação
das árvores, submissão dos mares, sujeição dos ventos, exigindo um céu azul, um
sol brilhante. Criticava a vida, obrigava, gritava direitos de puro nascimento,
fazia barulho, tanto barulho que passado um tempo, só o silêncio escutava.
O
silêncio que como um pai paciente e amoroso, esperou até aos últimos resquícios
de fulgor, pelo pacificar da alma, pela ternura, pela calma. Então, só então,
como quem fala de banalidades, lançou discretamente aquela frase.
Escutei-a, repeti-a uma, mil vezes,
buscando-lhe o sentido e de cada vez que a murmurava no pensamento, soava-me
diferente, mais intensa, mais verdadeira, mais necessária, mais urgente.
Abracei-a,
senti-me abraçada por ela, não como um encontro, mas um reencontro. Como quem
sabe que algo de importante, de essencial existe mas que ainda não se cruzou
com ela. Quando há o encontro, acontece o reconhecimento, envolta numa espécie
de saudade “esperava por ti, como demoraste…” Sim, podia dizê-lo, porque o
senti, mas o que importa…, o que importa é que chegaste.
Talvez
na hora certa, quando estava finalmente preparada para ti. Para te receber em
mim e te transportar no peito e quem sabe um dia oferece-la como se fosse
banal, até porque devia ser, se nos fosse naturalmente inata, uma célula que
herdamos ao nos tornarmos vida.
E tu estás preparado para ela? Só tu, com
todos os teus sentidos, todos os teus valores e vivências, o saberás. Se esta
frase te tocar, te enlaçar e tirares dela algum sentido para o caminho, então,
sim, estás...
O
bem não faz barulho, cada oferta que damos à vida, de ser feita sem alarde, ela
sabe agradecer, sabe retribuir.
O
barulho não faz bem, incomoda, magoa. É um gesto de quem não se importa com o
outro. Por vezes, muitas vezes, só o silêncio entende, só no silêncio está a
solução, quando o barulho que nos vai crescendo por dentro já não consegue
escutar a voz do coração.
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