A
paisagem é sempre o que quisermos, essencialmente o que somos, porque ela é
vista por um olhar, apreendida por uma consciência, valorizada por uma
experiência, julgada por uma estética, apreciada por uma moral, desenvolvida
por uma política. Quando a paisagem nos entra pelo olhar, sobe à consciência e é
analisada pela experiência, tocada pela beleza da estética e observada pelos
valores individuais de cada um. E numa tentativa de harmonia a razão insurge-se
em prole do naturalismo com argumentos científicos, mas o coração, num compasso
descompassado entra na discussão, acelera-se-lhe o sangue cresce o fulgor – a fé.
Só a fé, responde – pode conceber tal natureza dessa paisagem que se nos
oferece.
Enquanto
isso, o sol, alheio aos debates da ciência, do humano ou da religião, continua
no seu trabalho, quase missão de florescer primaveras, de aquecer verões, de iluminar
invernos, de aconchegar outonos. O vento sopra gargalhadas pela vã disputa, as
árvores erguem-se em majestosa indiferença, o céu desinteressado de tal disputa,
continua a estender o seu manto azul sobre o dia, o mar no seu vai e vem tenta
escutar, tenta quem sabe, até algo acrescentar mas o movimento contínuo das
águas fá-lo desistir. As rochas numa imponência desafiante obrigam a um renovado
e atento olhar, como as explicar?
De
repente um silêncio que nos mergulha no peito, calam-se as dúvidas, emudecem as
científicas certezas; quanto tempo se perde na tentativa do Saber e tão pouco
nos fica para o Sentir.