De
dentro de nós, de onde uma estranha e terna voz nos embala os sentidos. Desse
fundo, o nosso mundo por vezes tão singularmente profundo que nos anda quase
sempre á flor da pele. Toca e é tocado, abraça e é braçado. E desse toque quase
subtil germinam em nós primaveras no peito, o mais quente e doce leito. Mas que
em outros momentos fazem aflorar
vendavais na mudança das marés que trazem ao convés da alma, vagas ondulantes
de mágoa e de esperança. Sentimentos enevoados pelo torpor da crescente e longínqua
lembrança que desmaia suave na quentura das praias já quase desertas ao
entardecer.
Enquanto
as palavras que se escrevem no fino areal desfazem-se nos afagos do mar. Nessas
areias que num remoto passado já foram rocha, tão forte, tão erguida aos céus,
tão frágil, tão desmoronada aos encantos do vento quando ele lhe soprou promessas
sem nunca as cumprir. “Não importa”, murmura o eco na orla do horizonte, porque
acreditar é ser feliz. Se não acontecer, se não se realizar, fica a alegria do
ter sonhado, do ter sentido. E no intervalo da chuva há um pouco de nós que não
é molhado, que não é magoado e esse pouco, sendo pouco, sabe a tanto, quando
tanto se tem de capacidade para o sentir.
Afinal
basta estar por dentro, afinal basta estar perto de quem escreveu, de quem
viveu, de quem leu, para o sentir, para o guardar. Esse efémero momento quando
o sol se ergue faminto de beijos e a lua sonolenta de tanta noite, parte levando
um sorriso matreiro no dia cresce.
A
vida, essa continua e, o amor, quem sabe um dia acontece…
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