É
uma dor que nos magoa bem dentro do peito e dói como se fosse uma ferida que
não se vê, mas sente. Porém a medicina que tanto tem avançado cientificamente,
ainda não encontrou cura, para a tratar, para a arrancar de dentro de nós, e se
houvesse um tratamento rápido e eficaz, na verdade não o queríamos, precisamos
desse luto para que cada final nos seja um renascimento, uma transformação, uma
pacificação. Precisamos da dor para fazermos as pazes com o mundo, para
aceitarmos as regras do universo. Não é fácil, nem com o apoio sempre
disponível dos outros, esses, que são uma extensão de nós na amizade e na plena
dedicação. É-nos sempre estranho este sentimento de perda, quando a vida nos
rouba o que temos de melhor, de maior. Quando a doença lhe põe termo, quando um
acidente coloca um limite ao seu futuro, mesmo não querendo, aceitamos. Mas
quando uma guerra (uma incoerência do Homem) é a causa de tanto flagelo, de
tantos pais sem filhos, de tantos filhos sem pais, então, é-nos humanamente
impossível de admitir que uma violência mate indiscriminadamente vidas
inocentes. Sobretudo quando por humanidade se define que são gente,
benevolência, benignidade, bondade, caridade, complacência, compaixão.
Como
podemos aceitar, conviver ou fazer a guerra? Uma guerra que mata em nome da paz
e dos direitos humanos. Na verdade não podemos, não conseguimos entender e no
íntimo de nós cresce a revolta a incompreensão.
Ao
longo da vida todos perdemos algo ou alguém, felizmente, nem todos conhecemos
certas formas de perda, todas elas difíceis, todas elas dolorosas, mas umas
doem mais do que outras, sobretudo quando nos são causadas por pessoas que
deviam construir e garantir o nosso futuro, destroem-no, aniquilam-no
definitivamente.
E
na nossa dor individual, e na dor dos que nos são próximos, chegam-nos outras
dores, que embora distantes nos tocam de uma forma sentida e que nos fazem
refletir sobre a nossa pequenez em como devemos sair dela e abraçar a
magnificência dos outros, aqueles que ultrapassam o sofrimento da perda com a
maior coragem, a maior capacidade de amar.
Quando
recebi a imagem que publico, tive necessidade de lhe dar palavras, de a
estender, de a levar mais longe, de lhe dar a merecida visibilidade, para que a
humanidade a veja, sinta e a receba e abrace. Tentei escrever, mas senti que nenhum
texto por melhor construído que seja, que nenhuma intenção por muito solidária que
se manifeste, conseguirá transmitir a dimensão sofredora e humanitária que nos
deixa esta imagem e a sua história, por isso fica a vontade, o desejo de que
ela nunca mais se repita em nenhuma guerra, em nenhuma perda. Porque toda a
vida merece um futuro longínquo de pais com os seus filhos, de filhos com os
seus pais.
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