Tudo
me foge: O tempo, a vida, as sensações. Os raios de sol no olhar, o sorriso
como espasmo do coração, a vontade de tudo e em tudo. Fica este nada, este
vazio, esta sensação de partida.
Há quem diga que se tem muitos nascimentos,
será este mais um deles? É difícil nascer, falta-me uma mãe a expulsar-me do
útero, falta-me um pai de braços abertos para me receber, falta-me os avós num
olhar reconfortante, falta-me a direcção sem medo de me perder.
Nascer depois
de tantas mortes é estranhamente dolorosa como se nos arrancassem do antes sem
sabermos se será melhor o depois. É absurdo, mas habituamos-nos ao nosso dia a
dia, mesmo que não nos faça feliz, é como um sapato velho e feio que até nos magoa ao caminhar mas já
está moldado ao nosso pé, já lhe conhecemos os defeitos e ele conhece os
nossos.
Conhecemos o hoje, o amanhã torna-se um abismo de incógnitas, será
fundo, haverá luz, iremos perder-nos, quem nos responde? O silêncio! Velho
companheiro, ele está sempre certo porque não se atreve a errar.
Nós ao
contrário, falamos, gritamos, achamos que temos sempre razão, lutamos vencemos
mas perdemos sempre algo em cada vitória, um pouco da nossa paz por todas as
guerras que travámos, porque há sempre sangue mesmo que não nos saia das veias,
na dor, no sofrimento, o nosso e o que
causamos.
Tudo me foge, olho em frente, será apenas um novo encontro?
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