De repente os olhos deixam de ser um simples olhar, começam
a falar, a ter conversas inteiras. Os olhos que choravam agora também oferecem
sorrisos, aconchego. Os olhos revelam consentimento, discordância. Os olhos dão
abraços sem estender os braços. Os olhos aquecem os sentidos, acarinham alma.
Os olhos escutam quando nos olham com a atenção de um amigo que tem todo o
tempo disponível para nós. Agora que uma situação peculiar nos tapou a boca,
que nos roubou o sorriso do rosto, felizmente que temos os olhos para nos dar
cor, calor e expressão às palavras. Este vírus quer extorquir-nos o ar,
calar-nos, separar-nos, isolar-nos. Este vírus usurpador quer-nos unicamente
para si, exila-nos, condena-nos à solidão, remete-nos ao medo, à desconfiança,
subtrair-nos a esperança. Faz-nos sair do caminho que tínhamos como certo,
leva-nos para dias cheios de deserto. Prende-nos os pensamentos, tapa-nos a
boca. Mas mesmo que nos ponham óculos, viseiras, os olhos nunca vão deixar de falar,
gritar, sorrir, de dizer que estamos aqui, que vamos resistir e olhar de frente
cada desafio, sem virar a cara, sem fechar os olhos!
Ainda há muita beleza para ver, ainda há muito amor para
dar, muito afeto para repartir, muitos sorrisos por sorrir e muitas palavras de
esperança, de encorajamento que só os olhos conseguem revelar.
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