“Um
dia fiquei sem computador e sem telemóvel, morri digitalmente”. Fala-se cada
vez mais em robots, em inteligência artificial, em máquinas, em coisas que nos
são próximas, mas exteriores a nós, ou, talvez não.
Agarrados,
viciados, dependentes das máquinas tornamo-nos cada vez mais seus semelhantes.
“Será que as máquinas se parecem connosco ou somos nós que nos parecemos com
elas?” Falamos mais com elas e através delas do que com o vizinho do lado.
Afinal, mal levantamos os olhos do nosso telemóvel para olhar em redor, só o
fazemos para ver se é o nosso autocarro que chega. Chocamos com as pessoas mas
em vez de lhes pedirmos desculpa, preocupamo-nos se o nosso aparelho móvel
ficou bem, se perdemos a mensagem ou a imagem que estávamos a ver, se fomos
vencidos no jogo que nos consumia a atenção e o tempo.
Sentimo-nos
os maiores, os melhores, porque estamos ligados ao mundo, porque estamos dentro
dessa rede universal, fazemos parte dela. Sem sabermos, estamos verdadeiramente
presos a ela, tornamo-nos ela, deixamos que ela nos invada a privacidade, a
intimidade, que nos conheça da medula ao tutano, não há segredos entre nós.
Onde estamos, onde vamos, onde fomos, sabem tudo, contamos-lhe tudo. Mas é o
que se faz com os amigos, não é? Portanto, não há nada de errado nisso!
Até
os sentimentos mudam, acabaram as grandes conversas, aquele ombro amigo, aquele
abraço que nos amparava e reconfortava. Aquelas palavras que nos iam afagando o
ego, curando as feridas, embalando os sentidos, aprendemos a dar pouco de nós
seres sensíveis e emocionais, e habituamo-nos a receber menos ainda. Não
importa a qualidade do diálogo, o importante é a quantidade de visualizações.
Agora
recebemos um Like e isso, basta-nos
(?).
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