Não foi um passeio turístico, desses que se
vai à procura do diferente, do exótico. Foi uma viagem do corpo, da alma, de
dar e sobretudo de receber. Porque quando entramos num país como a Índia, na
verdade deixamos o país entrar em nós. Mais do que a sua alegria e a sua tristeza, mais do que a sua
riqueza e sua pobreza, mais do que a sua cultura e os seus hábitos de vida
fica-nos o olhar. Esse olhar que nem a diferença linguística consegue impedir
de nos tocar, de nos falar e nós de coração aberto, escutamos e sentimos, a sua
vida, a sua dor e sobretudo o seu amor. Aquele amor que resiste a tudo, que
como uma flor emerge em beleza pura mesmo nas situações mais adversas. Esse
amor, encontrei-o, abracei-o, mas senti-me quase minúsculo, quase fraco, e os
meus braços foram demasiado pequenos para esse abraço que queria chegar a todos
e chegou a tão poucos.
Andei pelas ruas, entrei nas sua casas, bebi
o chá que me ofereceram, era tudo o que tinham, não, tinham muito mais a
generosidade da partilha, do fazer sentir este estranho sentir-se bem vindo.
Andei sozinho e sempre me senti tão acompanhado, dos rostos das crianças, das
cores das suas roupas, do seu alinhado desalinho, do brilho dos seus olhos
ávidos de saber tudo da vida. A sobrevivência, a capacidade de viver e nessa
vida encontrar pequenas grandes formas de ser feliz.
Estive na Índia em vários e distintos
lugares, cada um tão belo quanto o outro, na sua essência, na sua diferença,
nas pessoas, nos espaços, nas cores, nos sabores, nos aromas, no alinhamento,
do céu e da montanha, do verde e do castanho terra batida, pisada de tanta
suave e árdua caminhada.
Na bagagem do regresso, trouxe as fotos,
milhares, desejoso de partilhar o que vi, o que senti, mas talvez não chegue
para entender cada sensação, é preciso lá ir, e depois disso, é preciso
regressar.
Eles ficaram lá, queria trazer todos e
trouxe, no coração.
(Foto in Paulo Teia SJ, Namasté, Braga, Frente e Verso, 2016)
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