Pode
aprender-se a ter fé? Pode ensinar-se a fé? Tenho para mim que a resposta é não
para ambas as perguntas. A fé é cega mas vê, é surda mas ouve, é muda mas fala,
fala-nos quando nós a sabemos ouvir. Um saber que não vem em nenhum manual, que
não vem de nenhuma teoria, mas no sentir, quando há em nós a capacidade de a
vivenciar. A fé vem ter connosco e simultaneamente caminhamos para ela, não por
uma escolha consciente mas porque é para lá que os nossos passos se direcionam,
é para esse lugar de espaço e tempo que olhamos, então, só então, conseguimos
escutar aquele passarinho a chilrear por entre o barulho da cidade. Sempre lá
esteve, sempre nos cantou, mas agora que o conseguimos isolar dos nosso ruído
interior, das nossas rotinas apressadas, da nossa constante inconstância,
escutamo-lo. Está ali, algures, não precisamos vê-lo, senti-lo fisicamente,
basta-nos a entrega que nos dá, a entrega que lhe damos de nós, do nosso tempo.
Assim deve ser a fé, uma paragem por mais ínfima que seja, uma entrega por
mínima que seja, e de repente o vislumbre de algo, uma certeza, uma razão, uma
resposta, uma certeza.
A
religião compreende-se, a cultura assimila-se, a educação aprende-se, mas a fé
sente-se. Algumas pessoas dizem que a fé é um dom e fazem dela a sua forma de
estar na vida. Outras dizem que é um chamamento e fazem dela a sua vocação. Uns
e outros encontraram a fé não sei se a ensinam, sei apenas que a partilham com
o entusiasmo intemporal de quem vive a descoberta da mais bela (a)ventura.
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