Conheço
pessoas impossíveis de se aturar, pessoas impossíveis de se gostar, no entanto
casaram, tiveram filhos, pais, avós, tios, primos, etc. Questionamo-nos com,
porquê? Alguns mais pragmáticos, sugerem que são pessoas “interessantes” pelo
seu dinheiro. Que os seus bens compram o amor, a dedicação, a amizade e tudo o
mais. Será? Custa-me a aceitar que o dinheiro tenha tal poder, mas por outro
lado, quando essas pessoas abrem a boca e de lá sai um role de disparates, de
insensibilidade, de agressividade, duvido das minhas próprias dúvidas e chego a
acreditar que só o dinheiro pode comprar alguma paciência para os aturar, para
os suportar.
Olho-os
e procuro encontrar neles a criança que foram, estará lá em algum recanto do
seu ser? Mataram-na, só pode! Garantem-me. São assassinos da ingenuidade, da
humildade, da solidariedade, da esperança, do sonho. Acreditam, têm fé em si,
instrumentos de guerra pessoal. E no entanto estes “grandes homens” tão “cheios
de si”, que ofendem, que anulam, que usam, que pisam, são pequenos homens. Com
gigantes medos, medo de não conquistar, compram, com medo de não receber,
rodeiam-se de luxuosos brinquedos, com medo da solidão, compram a companhia. Um
dia, mais tarde ou mais cedo, confessam-se “tão inteligente e tão parvinho”. E
surpreendidos, vemos-lhes o medo, um medo de tudo e de todos, da vida, da
morte. Um medo humano, não de carne e osso, mas de coração, de paixão. A
criança que foram, afinal não lhes está completamente “morta”, esteve
escondida, assustada, perdida. Nos momentos em que espreita, tem apenas um
desejo voltar para lá, para a vida uterina, para antes de nascer, de ser e ter
de fingir que não é o que é.
E
reconhecem sem o dizer que “ nunca de lá deviam ter saído”.
Quantos
e quantos não estarão a concordar com esta afirmação. Eles e a história da
humanidade no seu passado, presente e futuro, unem-se nesse mesmo desejo.
Porque
nós que não podemos “comprar” o seu silêncio, as suas acções imponderadas, os
seus erros, as suas guerras, para que não cheguem a concretizar-se, resta-nos
outras formas de luta através do medo que nos aumenta a coragem.
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