Gosto
do Natal em Novembro, quando as luzes coloridas se começam a acender, quando as
montras se enchem de coisas bonitas, quando as prateleiras das lojas se enchem
de brinquedos sorridentes, reluzentes. Quando as caixas das bonecas ainda estão
inteiras, quando as pilhas dos bonecos ainda funcionam e quando lhes tocamos
nos dizem olá e outras palavras com infantil doçura.
Quando
as pessoas encasacadas e com cachecóis quase só deixando ver os olhos nos
lançam um olhar brilhante e sorridente, parece estranho mas sem lhes ver a boca
vemos-lhes o sorriso, estampado na face rosada de frio.
Gosto
do Natal em Novembro, quando ainda não há corrida para as compras, quando ainda
não há fila para os embrulhos. Quando ainda sonhamos com um Natal perfeito, em
que tudo vai correr bem, que todos vão receber a prenda que desejam, que não há
lares de mesa vazia, lares sem família, lares de tristeza, de doença, onde a
partida parece eminente onde a dor parece permanente, lares onde o Natal não entra
pela porta nem pela chaminé. Mas em alguns desses lares, o amor sobrepõe-se às
dificuldades e há noite contrariando o cansaço e o sono, alinhavam-se bonecas
de pano, bolas de restos de tecido, para que os filhos tenham no sapatinho um
pouco de Natal. E quando nem isso têm para lhes dar, passeiam de mãos dadas
pelas ruas iluminadas, levam os filhos para ver as montras recheadas e deixam
que sonhem, porque só o sonhar lhes podem oferecer, é grátis, dizem numa
tentativa de esperança que a dureza dos dias frios ainda não lhes tirou.
“À
noite, um cházinho e uma fatia de bolo Rei que nos ofereceu a paróquia e está
celebrado o Natal, para o ano será melhor, e olhe, desde que haja saúde já nos
damos por felizes”, garante aquela senhora com idade indefinida, deve ser
jovem, pelo menos olhando à idade dos filhos, essa prole de anos em escadinha
que caminham em fila saltitante, são 4. “5 corrige-me a corajosa mãe, abrindo o
casaco e revelando uma gravidez avançada, “deve nascer por volta do Natal, vai
ser o meu menino Jesus e vai-se chamar Jesus!. Era costureira numa fábrica que
dispensou mais de metade dos trabalhadores, e ela veio-se embora, agora faz
pequenos arranjos de costura em casa e toma conta dos filhos, “sempre se poupa
no infantário”.
Gosto
do Natal em Novembro quando a azáfama ainda não nos sufocou, quando o receio de
esquecer alguém ainda não nos criou ansiedade. Quando os dias ainda têm 24
horas, porque depois sentimos que diminuem e rapidamente aproxima-se a festa do
Menino.
Gosto
do Natal em Novembro, de o saborear entre um café e a companhia das amigas que
começam sem pressa a planear o Natal, “este ano vai ser na casa dos meus
sogros, o ano passado foi com os meus pais”, “os miúdos este ano passam a noite
de Natal com o pai e a dia comigo”.
Gosto
do Natal em Novembro quando uma espécie de ternura nos começa a envolver e de
repente outros Natais vêm-nos à memória, Natais da infância com os pais, avós,
tios, primos, amigos, com os que ainda estão já mais velhos mas que ainda
reconhecemos pela afabilidade das palavras e pela candura gestos de amizade,
outros, já partiram, mas ficaram e estão connosco em todos os Natais.
Gosto
do Natal em Novembro, quando o Menino nos começa a “renascer” na alma e a
preparar-nos para a sua festa em Dezembro.
Quem
me dera que o Natal fosse em Novembro, mas também em Janeiro, Fevereiro, Março,
Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto, Setembro, todo o ano, todos os anos, em
todos os lares, em todos os corações.