Às
vezes escrevemos o que a memória nos permite, o que a fantasia nos possibilita,
o que a vontade de alcançar nos faculta. Mas são sempre histórias, as nossas,
as dos outros e as daqueles que passam por nós e deixam uma qualquer
inspiração.
Nem tudo é verdade, nem tudo é mentira,
depende de quem lê, a tornar a sua verdade ou a sua mentira ou apenas fantasia.
“Lemos porque buscamos na leitura a história que não vivemos”. Lemos porque
precisamos de sonhar ou por vezes de acordar.
Lemos
para voar e cada página é uma asa aberta ao horizonte de infinitos. Lemos
porque necessitamos de aterrar, de encontrar portos de abrigo para vencer as
nossas tempestades.
Os
livros nada mais são do que pedacinhos de nós. “A minha estante está cheia de
gente”. E essa gente que tenho por amigos, fieis, companheiros, sempre
presentes, quando, de repente, o silêncio enchesse de vozes, de palavras, de
pensamentos.
Deitada
no sofá, corro por cada página atrás de cada frase, que mais parece um comboio
em permanente viagem. Cada momento empolgante, rouba-me o ar, o olhar fica em
suspenso, preciso parar, preciso de retomar a história, percorrer o fio desses
intrincados meandros.
Sofro,
como sofro pelo sofrer de cada personagem. Apetecia-me rasgar aquela página,
rescreve-la, dar-lhe um destino melhor.
Porque
se na vida real não temos essa possibilidade na literatura “o céu é o limite”.
Mas isso é roubar as palavras ao autor, furtar-lhe os pensamentos,
distorcer-lhe os sentimentos, usurpar-lhe a intenção, invadir-lhe o coração e
tornar nosso o que não nos pertence, mesmo que o tenhamos comprado, que esteja
na nossa estante.
Nessa
estante onde esteve toda uma vida quando por um qualquer acaso resolvemos
folheá-lo e agora, agora estamos armados em críticos da sua inspiração.
Que
vaidade a nossa! Querermos rescrever uma obra editada, quando nem sequer
conseguimos passar da escrita ingénua que desenhamos nas primeiras linhas da
nossa vida…
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