Já
floriram os jacarandás, era sempre nesta época, perto do seu aniversário.
Surgiam como uma prenda, como um sorriso florido de quem vem para uma festa e
em festa porque o festejado é ele próprio essa alegria, oferecida, partilhada.
“Já
floriram os jacarandás!” Repetia todos os anos como se fosse uma bênção da
natureza, uma dádiva da vida. Eram o cumprimento de um ciclo, que de alguma
forma nos modela a forma de sentir em cada estação do ano. A sua floração,
anuncia o fim da primavera, o início dos dias longos e quentes de verão.
O
ano passado os jacarandás floriram, errantes na nossa dor da sua partida,
pensámos, é a última vez que os jacarandás vão florir. Contudo, passado um ano,
a primavera desabrochou um jardim de flores sobre a paisagem, as árvores
vestiram-se de verde, as andorinhas cantaram e dançaram a sua peculiar melodia,
mas os jacarandás permaneciam despidos de cor.
Sim,
era verdade, com ela partiu também a última flor do jacarandá da rua onde
morava, das ruas onde passava, de todas as outras por onde passamos nós,
mergulhados em pensamentos de solidão, em sentimentos de saudade. Até que uma
flor me cai aos pés, reconheço-a de imediato, uma flor de jacarandá, murmuro
surpreendida. Caiu-me a meus pés, como se me chamasse, como se quisesse ser
olhada, contemplada, recebida e eu, confusa, atordoada com esta repentina
chegada, olho-a por entre lágrimas contidas de um ano de ausência, de uma
amiga, mas também de uma flor que ela apreciava, e que passou a ser um laço
estreito de lembrança.
Mesmo
depois da sua repentina partida os jacarandás continuaram a florir, recebo esta
“prenda” da natureza com alguma mágoa, por estranho egoísmo, queria que também
os jacarandás sentissem a sua falta e não mais florissem.
Mas,
floriram, ainda bem que floriram, porque isso significa renovação e nos faz
recordar essa amiga e desejar assim que as jacarandás floresçam todos os anos
para dar a cada flor o seu nome e à nossa saudade uma presença constante sempre
que o olharmos florido vendo nele eternizado o seu sorriso e a sua voz quando
dizia “olhem, os jacarandás já floriram!”.
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