O
amor pode estar tão perto e afinal, por vezes tão longe, uma distância que não
é mensurável em metros, em quilómetros, mas em gestos, os que recebemos, os que
damos, os que nos negam e que nos deixam repletos de ausências.
Medem-se
também pelas palavras e por vezes, demasiadas, pelos silêncios.
Contudo,
são tudo o que é nosso, por herança familiar, por amizade. São as nossas asas,
quando nos deixam voar. São as nossas âncoras, quando nos transmitem segurança.
São a possibilidade de crescermos, de
aprendermos, de sermos quem realmente somos.
Uma
herança que não se recebe só quando alguém perece, é uma herança de genes, mas também da partilha dos tesouros do seu
coração.
É certo que nem sempre nos trazem alegria, por
vezes há mágoas à mistura, faz tudo parte dessa cada passagem de testemunho,
das escolhas, de cada viagem, do enraizamento, de estar aqui com o olhar lá mas
ficar. Um ficar que nem sempre sabemos a razão dessa força anímica que nos
impele a agir, um dever moral, uma consciência, que nos entra mesmo pela porta fechada e nós,
cumprimos, respeitamos.
Devia
ser por amor, por vontade, por querer, devia ser natural, espontâneo, afinal,
somos o fruto dessa árvore. Mas a verdade é que “quem não me deu amor, não me
deu nada” (Ruy Cinatti), e esse nada é por vezes a nossa herança, aquela com
que temos de viver.
Se nos sobrar coragem e não nos faltar o carácter, vamos
engrandecer, fazer do pó montanhas, transformar a indiferença em diferença e a
distância repleta de gestos, ou palavras para que cresçam em tesouros passiveis
de ser partilhados. Até que um dia seja o amor a herança que todos nós
recebemos como a mais preciosa ao longo da vida.
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