
Afinal,
vivemos em busca de nós, em busca de um chão, terra firme onde repousar a vida
tão rapidamente vivida. Em itinerários de velozes alterações, metamorfoses do
ser, do crescer, do amadurecer. E isso acontece-nos mesmo quando julgamos que
estamos parados em algum porto de abrigo, tempo breve de tranquilidade, porque
a qualquer inesperado momento somos atirados para o meio do oceano, onde uma
tempestade nos impele a prosseguir por entre vagas que nos levam aos de cumes e
aos baixios, afogando-nos e erguendo-nos como se fossemos uma jangada de pedra em
súbito desespero por um farol que nos ilumine a escuridão de cada dia.
Sonhamos
com macias dunas onde pousar a cabeça, ansiamos por uma brisa que nos leve a
magoada memória desse mar, desse sal doendo no corpo.
Enquanto o horizonte se estende para lá do nosso
querer, dizendo que é longo o caminho, num convite, num desafio, enquanto cada
braço estendido se depara com o limite de uma margem, que não sei se nos
abraça, não sei se nos oprime.
Por
vezes visualizamos pontes, quase parece fácil atravessa-las quando acreditamos
que do outro lado há uma chegada festejada, mas é difícil encontrar o passo
quando nos habituámos a mergulhar sem vir à superfície.
Quando nos esquecemos de respirar e morre-nos nos
alvéolos pulmonares o oxigénio da última esperança. Quando na crista da onda,
ela não é celebrante mas desenraizante da fé, do alento desse lugar para onde
queremos ir. Talvez, porque esse lugar na realidade nos seja apenas uma ilha de
fantasia, e entre nós e os oceanos somente exista o reflexo silencioso das noturnas
estrelas.
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