Quem
lê o que escrevemos, lê mais do que letras à solta, lê mais do que linhas
alinhadas, mais do que palavras, ideias, mensagens, emoções.
Na
verdade quem lê não lê, embora o acredite, não o que está escrito mas quem o
escreveu. Porque em cada acto de leitura somos nós que somos lidos por vocês
leitores que nos “escrevem” com as vossas expectativas, com as vossas
angústias. E depois, quantas vezes, muitas, deitam-nos fora, apagam-nos,
riscam-nos, atiram-nos à parede, deixam-nos abandonados numa estante cada vez
mais lá para o fundo, para o lugar do esquecimento.
E porquê? Porque não leram em nós aquele
abraço, aquele aconchego, a palavra amiga, o sonho que queriam concretizar no sonho.
Não
encontraram em página alguma a compreensão, o apoio, a ternura que buscavam.
Leram cada letra, cada silaba, cada frase ávidos de esperança, de que nós
tenhamos escrito que estávamos lá para vós.
Depois
de tantas horas, de tantas noites de insónia, de meses perdidos, desistem da
leitura, com amargura, dor e no sarcasmo onde escondem a decepção, esboçam um sorriso e pronunciam triunfantes a
sentença “este livro não presta!” Condenado ao lixo por anos infinitos de segregação na estante dos fundos.
Mas,
que culpa tem quem escreve da descoberta falhada do seu leitor. Dessa aventura
de encontro consigo que não aconteceu. Da mal sucedida decifração do seu eu na
evocação da sua história, no mergulho profundo e afogante na sua desconsolada memória.
Não
nos culpem da vossa desventura. Olhem para nós, olhem por nós, saibam que “Os
livros também têm memória e não esquecem!”. Acreditem nas suas palavras,
sintam-nas latejantes de emoção, “quando
lidos profundamente eles estão incrivelmente vivos”.
Todos
os livros são infinitos. Começam no texto e estendem-se pelo coração.
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