
Mas
hoje, quando olham para nós não percebem, aquilo que já fomos, o que já
sentimos, as mágoas, o rio de águas que secamos no peito.
Levamos
o ano inteiro a esquecer, há momentos que chegamos a acreditar que o
conseguimos, que já passou e que nada, absolutamente nada dessa memória restou,
apenas, quiçá, a data. Como um fantasma que de vez em quando ainda nos vem
assombrar o sono, os sonhos.
No
entanto, quando a proximidade se começa a fazer sentir, a angústia acentua-se,
uma recordação eleva-se e entristece-nos, talvez menos, do que no ano passado,
pensamos, porque na verdade, assim queremos supor. Mas será que é o que
acontece em nós, no turbilhão das nossas emoções?
Afastamos
os ventos da desgraça, queremos, precisamos, de sorrir. De contemplar cada dia
e nele encontrar o brilho solar do nosso olhar. Afinal, neste ano aquele mês,
aquele dia, já passou, no próximo estaremos melhor e a data, a terrível e
temível marca da vida ter-se-á esbatido na nossa lembrança substituída cada vez
mais pela crescente esperança de que realmente assim seja.
Para
outros, alguns, ainda se aproxima esse
mês, esse dia, que lembra o final de algo, ou o princípio de tudo: uma morte,
uma doença, um acidente, um divórcio, uma catástrofe, uma tragédia, uma perda
irrecuperável, um desencontro, outras, tantas e dolorosas vivências, histórias
que ficam para sempre dentro da nossa história.
Até que um dia, acredito que
esse dia chegue, possamos aproximar-nos desse mês sem medo, sem revolta. Que o
dia venha e passe com a mesma leveza de todos os outros dias.
E quem sabe, em
algumas situações, tenhamos, até vontade de o celebrar porque foi o percursor
da mudança, significou apenas o fim do que tinha de acabar e o começo de algo
que nos fortaleceu e conduziu a um futuro mais radiante.