“Ninguém é igual a ninguém.
Somos um estranho impar”. Há momentos em que procuramos a completude nos
outros, mas acabamos sempre sozinhos, não falo em finais, em rompimentos, em
adeus sem regresso. Mas de silêncios que nos crescem no peito, quando as
palavras, todas elas, já foram ditas e, mesmo quando as repetimos apesar de nos
parecerem novas, são as mesmas para semelhantes dilemas, ou para outros que
entretanto criámos. Porque vá para onde formos. Porque mesmo quando crescemos e
nos multiplicamos, somos e seremos sempre apenas nós, sós.
Não porque o escolhemos, mas porque fomos
escolhidos. Faz parte do que somos, esta necessidade de estar, de voar para
longe de tudo e ficarmos mais próximos de nós. Às vezes, mas só mesmo muito às
vezes, bem que nos apetecia que alguém viesse desarrumar a nossa vida, desordenar
os nossos sentidos, um a um até só restar como primordial aquele que nos olha
de frente como um abismo, quem sabe para mergulharmos, se ao menos tivéssemos
coragem, de morrer, de renascer…
Mas não, o silêncio já nos
chama e nós como um filho do mar e da onda deixa-mo-nos ir nesse embalo, porque
sabemos que nada é tão bom, tão doce, tão terno quanto esse abraço. Só tu me
permites ser o que sou. Só tu entendes os meus silêncios, já os conheces, dizes
que até já “gostas deles”. Porque tu, tal como eu, sabes, que fazemos, um impar
perfeito.