Descobri há pouco tempo (santa ignorância!) que “Tágides”
é o nome que Camões chama às ninfas do Tejo! Sim, passei pelo último ano do
liceu logo a seguir à revolução dos cravos e não estudei os Lusíadas. Em vez
disso, li Sofia de Mello Breyner e Alves Redol e Soeiro Pereira Gomes, que me
fizeram olhar para o Tejo com outros olhos e amá-lo e, às vezes, querer odiá-lo.
Vejo-o correr há mais 50 anos, sempre ao alcance
da minha vista, parte da minha paisagem quotidiana, da minha vida! E afeiçoei-me a ele e ao
seu mar largo e brilhante ao sol, ou cinzento e ponteado de espuma branca de tempestade.
É deste Tejo, carregado de memórias de
vidas que nele se fizeram e por ele vieram e partiram, que eu gosto e às vezes
desgosto e me zango. Quando se esquece que é água de vida e leva quem ainda não
pôde viver.
Não é culpa dele, certamente. Mas fico zangada.
Não sei se com ele, que corre sereno à mercê de quem o olha e por vezes não
entende, se com quem não se lembra que é rio forte e maduro, com rugas
profundas onde a correnteza correr ainda mais, sem tempo para ver se há miúdos curiosos
e inquietos, sedentos de água e aventura de quem os adultos se distraíram.
E apetece-me invocar as tágides - que aquietem este rio e cuidem de quem não lhe conhece a força escondida na mansidão das suas águas.