Tinha um ar peculiar de cavalheiro à moda antiga. Figura pitoresca, extraída do livro de Eça. O bigode retorcido, os poucos cabelos admoestados com gel. O fato de fino corte e padrão discreto, a camisa dum branco imaculado e para completar o conjunto um laçarote de bolinhas azuis. Aproximava-se com descrição, apresentava-se e pegava na mão da desconhecida dama. Com o corpo ligeiramente inclinado, manifestando o seu respeito, a voz saia rouca mas terna quando declamava-lhe um verso que oferecia como se fosse uma flor. Umas pessoas gostavam muito. Outras estando tristes ficavam alegres. Outras ainda de tão surpresas ficavam sem palavras. Mas havia quem não gostasse. Era o caso duma senhora de expressão amargurada. Cansada dum dia de trabalho, a desconhecida fugia com a mão, negava-lhe a atenção, resmungava com impaciência.
– Deixe-me em paz, já estou farta desses versos decorados, são sempre os mesmos. Exclamou com azedume. O cavalheiro não se retraiu, nem se ofendeu. Sorriu com doçura que só o passar dos anos lhe concedeu.
– Tem razão minha senhora, peço desculpa pelo atrevimento. Pois como podem tão banais versos comparar-se a tão singela dama que só a mais bela flor pode igualar?
Dito isto tirou da lapela do casaco uma rosa e ofereceu-lha.
A delicadeza humana perde-se muitas vezes dominado pelo stress. Pode ser verdade, mas também uma desculpa quando as pessoas criam indiferença em relação ao mundo que as cerca. Beijocas C.
ResponderEliminarTão bonita, tão doce, esta história. E o que mais me faz ficar sensibilizada é que sei que tudo o que escreves é verdadeiro, claro que lhe dás a tua versão, o teu toque. Esta é mais uma delas. Conheci esta figura pituresca, cruzei-me com ele algumas vezes e até recebi um verso de oferta. Já foi há tanto tempo que já me tinha esquecido. Obrigada por o recordares. Bjs A.
ResponderEliminarOuvi falar deste velhote, vivia no lar dos inválidos do comércio, durante o dia andava a passear pelas redondezas e compor versos. Gostei que o tivesses imortalizado aqui. Tenho pena de não o ter conhecido e recebido um verso seu.
ResponderEliminarPelas tuas palavras quase visualizei a figura dum livro de Eça. O aspecto cuidado e o cavalheirismo. É pena que já não existam pessoas assim. Bj, Leonor
ResponderEliminarGostei a história e da subtil mensagem. Andamos tão envolvidos no nosso dia-a-dia que já não paramos para apreciar a beleza que está à nossa volta. José
ResponderEliminarGostei muito de ler esta mensagem. Faz-nos pensar na indiferença com que vivemos indiferentes, como deixamos passar por nós as coisas bonitas da vida. Felizmente há pessoas como você. Com esse “olhar” sensível e atento para nos trazer esses quadros sociais e nos fazer o mundo de outra forma. Um grande beijo, Adelaide
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