Escondo-me
nas sombras, quem sabe não me vejam, quem sabe me esqueçam. Quem sabe me deixem
viver e ser na vida quem sou.
E o que sou é esta sombra, crepúsculo dormente do
dia que parte, que acorda e cresce na mesma penumbra indefinida das horas entorpecidas
da vida.
Basta-me
ser isso, pouco ou nada mais que uma claridade atenuada pela interposição de um
corpo entre algo e coisa nenhuma.
Similar a uma silhueta, a um corpo desenhado
na vaguidade da superfície entreposta entre ela e o sol que é a sua fonte de
luz.
De
tanto me esconder na sombra torno-me ela, segredo, mistério, leve noção na
linha do horizonte sob a proteção da penumbra de eclipse. Esta
sombra conforta-me, antes era uma espécie de mágoa deambulante.
Que bom é este
conciliador amadurecer, não gosto da expressão envelhecer, parece indicar que é
um perder, é em certas situações mas noutras é um ganho.
Lembro-me
que quando desejava a luz e a dor que me causava quando o tanto sol existente
apenas me cedia um pouco da sua claridade confinando-me a um certo e profundo
anonimato Tive uma outra fase em que ambicionava ser farol salvador das marés
que embatem contra os cais. Com palavras de esperança, queria afastar as nuvens
que geravam intensos nevoeiros.
Hoje o nevoeiro aconchega-me, sinto o silêncio
do seu abraço e deixo-me guiar por ele e encontro um novo e suave caminho.
E
apesar de apreciar com alegria a suavidade envolvente de viver na sombra, sei
que tive coragem para nunca deixar de lutar por um lugar ao sol, porque me
neguei a ser uma sombra de infelicidade com medo de ser efemeramente feliz.
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