Tudo o que sou é nada, que tu transformas em algo de bom. E
eu sendo tu, sou tão maior, sou tão melhor. Completa no existir, inteira no
ser.
Tudo o que era: caminho que se derramava. Que se estreitava,
que se perdia. Deserto por onde caminhava em busca dum oásis, mas sem esperança
sequer de o vislumbrar.
Tudo o que fui em
esquecimento se transformou. Para quê ler as folhas escritas por outro
batimento, um compasso que não tinha eco.
Tudo o que serei agora é contínua descoberta, feita de dias, de luminosidades, de
tonalidades, de sons partilhados, vividos em consonância perfeita com os
hemisférios.
Tudo o que sou, esse nada, que renasceu da espuma do mar,
cresceu em onda, foi maré, quem sabe um dia mar, oceano onde possa desenhar
abraços por toda a amplitude terrestre.
Tudo o que sou é sombra diluída dos dias que contigo hei-de
construir.
Mas tudo isto é o sonho, uma voz quase inaudível de
esperança, resquício de um luar que a manhã resgatou ao primeiro raio de sol,
tudo é bom quando vem a seu tempo e nos permite vive-lo na sua plenitude.
Quando uma lágrima não nos vem roubar o sorriso, quando uma dor não nos vem roubar
o ânimo, quando tu, cujo nome pronuncio com receio de o profanar de egoístas desejos,
chegas e te sentas a meu lado. Escuso-me de te pedir que fiques, que me ouças,
que me entendas, quando sou eu, unicamente eu, que me perco demasiadas vezes dos teus passos.