Quando
era miúda estava cheia de certezas, sabia o que queria ser quando fosse
(grande), sabia por onde queria ir, sabia de quem gostava, sabia quem gostava
de mim. Sabia sonhar acordada, sabia
como tornar reais os sonhos. Achava que
sabia tudo, ou quase tudo, porque tinha a certeza que (crescer) era saber
mais, muito mais. Que desilusão senti
com esse passar dos anos, cresci, é verdade, um crescimento físico e mental, um
crescimento de alma, um crescimento sobretudo de calma. E, de repente, a
célebre frase do filósofo socrático começou a fazer sentido “Só sei que nada
sei” sem criar angústias de ignorância, mas a felicidade pela vontade de
conhecer, descobrir, de me reinventar.
Mas
se antes tinha uma certa avidez por aprender, como se o não saber me condenasse
à exclusão, hoje prefiro aprender devagar, para que o que se aprende fique a
maturar, a ganhar consistência e não seja como muitas aprendizagens que fazemos
e que ganham asas antes mesmo de deixarem em nós a construção de um ninho para
o futuro. Hoje dizer que não sei, em vez de me dar tristeza, enche-me de
orgulho, porque é um não sei causado pelo esquecimento, mas antes o
reconhecimento do tanto que ainda tenho por aprender.
Aprender
com os mais velhos, aprender com os mais novos, na diferença de coisas que nos
transmitem e enriquecem os nossos dias. Com os mais velhos aprendi a construir
caminhos de paz, de solidariedade, de apoio, de companheirismo, de cooperação e
de renuncia, de desvalorização, tempestades, se as houver que surjam nos
oceanos e não em (copos de água). Com os mais jovens aprendi a abertura, a
receptividade, a esperança, a confiança, o viver cada hoje sem me preocupar
demasiado com o construir do amanhã.
Às
vezes apetece-me dizer, “não sei, nem quero saber”, não quero saber, de
violências, de mortes, de corrupção, de injustiças, de ingratidão, de
indiferença, de egoísmos, de guerras, de políticas, de ditaduras, de tudo o que
nos afasta de nós humanidade e nos transforma em desumanização e solidão. Não o
digo por cobardia, por desinteresse, por medo…
Digo-o
por tristeza, por um sentimento crescente de impotência, por me sentir tão
pequena e por reconhecer que nada, mas mesmo nada sei para (curar) o mundo da
sua ferida existencial. Se houver alguém que saiba, ensine-me, acreditem, quero
muito aprender!
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