De
repente, há um silêncio, nem uma queixa, uma lamuria. Não é que não se sinta,
mas aprende-se a silenciar a mágoa. Talvez assim doa menos, dizemos ao
pensamento. Mas a gente sente, sente a ausência, sente o vazio, sente a dor
infligida pela indiferença.
De
repente, já não sabemos de nós, perdeu-se na vacuidade, diluiu-se rotina amarga
das horas, badaladas dos dias, como um sino que toca as Avé Maria e depois
emudece.
Há
pessoas que se entregam, que a cada mínima coisa, queixam-se, como quem tem
necessidade de ser constantemente amparado, constantemente mimado, necessitam
de ser o centro das atenções, sentem-se vítimas de uma desgraça que cabe num
copo de água. Comparando as suas dores com as dos outros, são sempre
vencedores, dessa absurda “competição” sem prémio.
De
repente, ouço-os e tento compreender se é força, se é fraqueza. Concluo que é
indiferente e que essas pessoas simplesmente não conseguem conter o sofrimento
dentro do peito e o extravasam como um rio desgovernado e sem rumo.
De
repente percebo que elas são mais verdadeiras do que eu, mais inteiras porque
partilham, porque derramam sobre os outros o rol do seu descontentamento. “Eu
quando fico doente fico mais doente que tu”. “Quando tenho febre fico a
morrer”. Será que percebem quando já não estão a falar de si, mas a alienar os
outros, menos humanos, menos de carne e osso, esses que não têm sangue a correr
em sobressalto pelas veias.
De
repente, há um sorriso que não ri, compreende sem pedir compreensão, isto de se
ser crescida dá trabalho, talvez por isso, pouco queiram crescer e outros
tantos nem sequer cresçam.
De
repente há um silêncio, puxo os cobertores da cama, fecho os olhos e sinto o
meu cão encaixar-se na dobra das minhas pernas, agora é esperar, quem sabe a
dor também faça silêncio…
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