Às
vezes, a única coisa que procuro é um pastor e eu aconchegado no afecto,
deixo-me conduzir. Às vezes, a única coisa que necessito é de uma voz que me encha
o silêncio sem ter o ruído de palavras vãs.
Um
olhar que me sorria e não que me prenda de ameaças.
Às
vezes, a única coisa que quero é deitar-me no caminho em vez de o percorrer.
Cansado dos meus pequenos pés, os passos tornam-se distantes da meta.
Às
vezes a única coisa que espero é que o ponteiro do relógio pare e seja a hora
certa para existir.
Às
vezes, já não quero nada, mesmo nada, porque mesmo o pouco me parece tanto, que
nunca chega a vir.
E
o Natal enche-me de luzes de esperança, e acredito Nele, torno-me um eu,
criança.
Escrevo
cartas sem remetente. Paro horas em frente às montras e deixo o olhar navegar,
entre o que quero, o que desejo, o que sei que nunca terei.
Mas
depois arrumam-se os enfeites, tira-se a toalha da mesa, recolhem-se as figuras
do Presépio, acaba-se a festa e voltam os dias em que cada estranho continua a ser
um estranho.
Nos
anos, que prendas, talvez, se esqueçam e eu possa festejar esse esquecimento,
sem ouvir o cinto cortar o vento e calar-se na pele silenciosa, porque, sim,
chorar não basta…
Às
vezes, a única coisa que quero é não querer, não sentir, não temer, não ser.
Como
nada acontece, aprendo que posso ter tudo, aprendo que posso ser quem quiser,
que sou grande, que sou forte, que corro mais rápido que o vento, que voo mais alto que cada nuvem.
Cresci,
sou feliz, aprendi, sim finalmente aprendi, a mentir…
Sem comentários:
Enviar um comentário