“As amizades,
sobretudo as virtuais parecem-se com pastilha elástica, mastiga-se e deita-se
fora”, li esta frase, talvez exagerada, quero supor, quero acreditar. Mas o
texto explicava “
Afinal com
tanto por onde escolher, 500 amigos no Facebook,
700 no Instagram e mais uns quantos
nas redes sociais que ouço falar mas por onde não (navego)”.
Mais uma vez
sinto que este texto está carregado de uma mágoa, de um vazio, que se vai
espalhando, que nos vai tocando, invadindo por vezes até.
Apresenta os
“amigos” como um menu, onde podemos escolher consoante o que necessitamos ou
consoante o perfil desse amigo. As qualidades e os defeitos variam conforme a
sua ou nossa disposição “Torna-se normal escolher uma “amiga” consoante o
momento e sobretudo a disposição em que estamos em que elas estão”… ”Aquela, só
relata dramas e queixumes, “para dramas já basta a minha vida”, vou clicar
nesta, miúda porreira, sempre em alto astral. Talvez seja um teatro que faz, um
papel que desempenha, mas que me importa, só quero que me faça rir, porque de
lágrimas já bastam as minhas nuvens karmicas.”
De repente, pensamos,
quase acreditamos que tudo é ficção, não falsidade, mas criação, porque ninguém
está para nos aturar e, já agora, estaremos nós com vontade de aturar a problemática
do outro?
“Já lá vai o
tempo em que nos sentávamos e ficávamos horas a ouvir, a partilhar, a cruzar
lágrimas, a abraçar, a oferecer um ombro e só partíamos quando o sol brilhava
no olhar amigo, só nos despedíamos quando o sorriso aflorava e as palavras
magoadas tornavam-se palavras de esperança, de confiança.
Tal como a
autora deste texto, também me deixo levar por caminhos saudosos quando ouço as
pessoas idosas falarem dessa sensação, imagino-a repleta de afeto. Folheiam
álbuns, falam de amigos de infância que as acompanharam ao longo da vida.
Conheço algumas assim, ouço-as discutir, como um casal que de tantos anos de
vida partilhada, já não têm segredos, mistérios, omissões, numa cumplicidade
que faz com que se entendam até no silêncio.
“Hoje em dia há tantas formas de comunicar e
no entanto, estamos cada vez mais calados, mais sós, mais fechados em nós.
Chegamos ao mundo sem sair de casa, um mundo que é virtual, uma amizade que é
virtual, um amor que é virtual, uma vida que será um dia virtual?”
Acredito que
não, sei que não, porque ainda nos
navega células de afeto, moléculas de amor, genes de solidariedade. Porque
ainda somos seres sociais, que partilham alegria, que atenuam tristezas, porque erguemos quem cai, porque amparamos,
acompanhamos, porque somos tudo isto e muito mais. Porque nos está no
ADN e nos define como humanidade.
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