Hoje,
vou sentar-me na tua cadeira, vestir a tua roupa, calçar os teus chinelos. Hoje
vou dormir na tua cama e acordar antes do sol se levantar, tomar os teus filhos
como meus, chama-los uma a um com um beijo, preparar-lhes o pequeno almoço e
levá-los à escola. Antes disso, vou passear o teu cão, deixar-me arrastar por
um caminho que só tu e ele conhecem.
Hoje
vou para o teu trabalho, enfrentar a tua rotina de chefes e colegas, de papéis
cuja ordem só tu sabes por uma experiência de anos que torna fácil o que a mim
me parece complicado e difícil de fazer. Almoçar ou talvez não, quantas vezes
me disseste que nem tinhas tido tempo para almoçar, e eu pensava, que
disparate, que falta de organização! Mas não, por vezes é mesmo assim, as
tarefas são-nos exigidas e o dia não tem mais de 24 horas.
Está
na hora de ir buscar as crianças à escola, de as levar ao ginásio, hoje é o dia
da consulta do mais pequeno, não posso esquecer que tenho de levar o mais velho
à explicação de matemática. E o trânsito que não anda e os semáforos que hoje
estão todos vermelhos e o estacionamento que é quase como procurar uma agulha
no palheiro.
Horas
depois, finalmente o regresso a casa, ao descanso, mas depois de fechar a porta
da rua, recomeça o reboliço, os banhos, meninos cuidado não se magoem com as
brincadeiras! O jantar por fazer, o cão que salta à minha volta, já passa da
sua hora de ir à rua. Espera, vou gritando em desespero, uma coisa de cada vez,
vais à rua depois das crianças jantarem. Até vai ser giro, um passeio relaxante,
não achas? Mas o Buddy, não concorda comigo e acha que deve ser tudo na ordem
inversa. Pronto, venceste, primeiro o teu passeio higiénico, depois o banho das
crianças, o jantar, lavar a loiça e sentar-me no sofá a ver um pouco de
televisão. Parecia um bom plano, mas o sentar no sofá, raramente acontece,
depois do jantar é a hora da partilha, cada um conta um pouco do seu dia e
depois está na hora de irem para a cama, de confirmar se os dentes foram
lavados, de os aconchegar, de lhes dar um beijo na face rosada e deixar sobre a
cadeira a roupa que vão vestir amanhã.
Agora
sim, o sofá é meu, digo eu e semelhante pensamento tem o Buddy, o golden
retriver que é mais rápido e de um salto estende-se todo sobe as almofadas. Ok,
vou para a cama, assim, como assim, se me deitasse no sofá adormecia de
imediato.
O
despertador toca, já é manhã, está na hora de acordar o dia, as crianças, a
vida, a tua vida. Só então percebo o quanto é difícil, a força e a coragem que
tens para a viver. Invejo-te, não o que tens, mas o que és.
E
penso, de vez em quando todos nós devíamos calçar os sapatos dos outros, antes
de os julgar, criticar, devíamos ajudar, devíamos agradecer-lhes o existirem,
tal como são.