Hoje,
só hoje, deixem-me ser quem sou, deixem-me guiar os meus passos, soltar os meus
gestos, despir-me de qualquer obrigação moral, religiosa, cultural, educacional
e ser apenas eu, pessoa, humana.
Hoje,
só hoje vão vou trabalhar, nem acordar cedo e enfrentar a multidão de gente
anónima, de rostos que me olham e não me vêem.
Hoje,
só hoje vou deixar o smartphone desligado e ter conversas cara a cara,
partilhando o mesmo ar que respiramos, o mesmo sorriso que oferecemos.
Hoje,
só hoje, vou gritar a minha verdade, dizer que não sou assim, como me imaginas,
como queres que seja. Vou dizer-te que também tenho lágrimas mesmo quando rio,
que também me magoas mesmo quando digo que está tudo bem. Vou confessar-te que
detesto a distância que o silêncio impõe, que preciso de palavras que me
abracem.
Hoje,
só hoje vou desfilar nua de preceitos, de preconceitos, de mentiras piedosas.
Vou fingir que esta que vês, que ouves, a quem chamas amiga, a quem dizes amar,
não sou eu, que me disfarcei de pessoa frágil, sensível, delicada.
Hoje,
só hoje, vou desfilar neste Carnaval que
é a vida, iludindo-vos, desiludindo-me, mas sendo (real).
Porque
hoje, só hoje, Vou soltar o meu espírito de criança e dançar à chuva, saltar
nas poças de água, escorregar na lama, deitar-me na relva e rebolar pela
encosta abaixo, desenhar figuras com as nuvens do céu. Soltar bolas de sabão, e
abraçar as cores do arco-íris.
Depois, adormecer cansada e sonhar que o hoje, mesmo que seja só o hoje me vai ficar eterno e feliz, escondido no coração.
Depois, adormecer cansada e sonhar que o hoje, mesmo que seja só o hoje me vai ficar eterno e feliz, escondido no coração.
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