Quem
somos? Sim quem somos? Depois de alguns anos, muitos, talvez, já sabemos tudo
sobre nós, e às vezes numa falta de humildade, julgamos que sabemos tudo, ou
quase tudo sobre os outros.
Mas
que sabemos sobre nós, que sabem os outros do que somos? Altos, baixos, gordos,
magros, loiros, morenos, brancos, pretos, mas isso é só a forma do “embrulho”,
não nos revela, embora em muitos casos, condicione a forma de existirmos. Simpáticos,
generosos, bondosos, benevolentes, amáveis, atraentes, francos, leais, persistentes,
firmes, convictos lutadores, sim, tudo isto já são características do que somos
em qualidades, possivelmente em defeitos.
Mas
a verdade é que podemos ser mais, muito mais, coisas que nem nós que há tanto
tempo nos “conhecemos” sabemos. E de
repente, por vezes, do nada, surge a revelação, surpreendemos os outros,
surpreendemo-nos a nós. E a história, a nossa história muda por completo.
Olhamos
para o passado em busca de um indício, lá onde tudo começou, no berço, na
infância, na adolescência, nas relações, na solidão. Em algum tempo, em algum
lugar, estava lá, não o vimos, não sentimos, ou não quisemos (por medo) sentir.
Afinal, apenas queríamos ser “normais”, iguais aos outros, e igualmente felizes
como eles. Mas tudo não passou de uma conveniente aparência, ilusão que
criávamos não para iludir os outros mas sobretudo a nós.
Não,
não era fingimento, como fingir o que
nem sabíamos que éramos? Ou sabíamos, no fundo sabíamos, mas era como que uma
mágoa, uma dor fina que não chegava verdadeiramente a doer, uma loucura
“pensava”. Disparates da juventude, mas queria, queria muito ser aquele outro
que não era, num outro corpo, numa outra alma.
Mas
numa torrente impossível de suster por mais tempo, surge, revela-se como um susto de onda avassalava-me o peito, o desejo
de calar um grito que me ecoa na veias.
Depois,
muito tempo depois, num tempo que nos
parece eternidade, uma calma de impotência, tinha de aceitar, de me aceitar. Que
há de errado em se ser quem se é? E o que sou! Sim, o que sou? Não sei, vou-me
nascendo, de dentro para fora. Um parto doloroso, mais de ansiedade do que de
tudo o resto. Na ávida esperança de que um dia, um feliz dia, seja realmente
Eu!...
Sem comentários:
Enviar um comentário