Há
sempre algo que fica por dizer, algo que fica por fazer, mesmo quando achamos
que dissemos tudo, que estivemos sempre presentes, que demos tudo o que
poderíamos dar. Há sempre algo, e é esse algo que nos dói profundo no peito. É
esse algo que nos aumenta a saudade, que nos deixa inquietos, revoltados, até
mesmo zangados com a vida no que ela é
de tempo. Afinal bastava, talvez, mais um dia, aquele em que poderíamos ter feito o
que ficou por fazer. Bastava aquele abraço, aquele adeus que acabámos por não
dar. Mas a verdade é que mais um dia, um mês, um ano, qualquer tempo, nunca
chegaria, porque temos sempre muito mais para dar.
Perante
aqueles que amamos, o que temos para dar em termos de amizade e de carinho,
nunca se esgota. E depois, passe o tempo que passar, mesmo quando sabemos que
cada momento pode ser de quase partida, nunca lhe poderemos dizer adeus. Riscámos
essa palavra do nosso dicionário de existência, apagámo-la do nosso coração
a partir do momento em que abrimos a porta a essa pessoa, ela entrou e nele permaneceu
e permanecerá.
Querida
professora, as suas aulas não foram somente lições de filosofia, foram sobretudo
lições de vida e houve uma frase, entre muitas outras, que me disse num dia particularmente difícil, e que ainda hoje quando necessito, a ela recorro “Lembre-se de esquecer”.
Eu tento, tento esquecer tudo o que me magoa, mas
nunca esquecerei o que me fez feliz, nem as pessoas que para isso contribuíram
e nas quais a incluo. Admirei sempre a sua atitude de coragem, “ o que não
podemos curar devemos suportar”. Ambas sempre fomos Kantianas por isso
despeço-me com uma frase desse filósofo, para atenuar a mágoa do caminho. “Se
vale a pena viver e se a morte faz parte da vida, então, morrer também vale a
pena” e nesta fé, despeço-me até um dia, para então, retomarmos as nossas
conversas filosóficas.
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