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Como está o nosso amigo?
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Cada dia mais distante.
À
velha e eterna questão que leva a vida para o seu final, nunca me tinham
respondido assim, com tal serenidade, a quietação de quem aceita a partida ou
com tranquilidade por quem parte.
Um
tema que a todos parece assustar de uma ou de outra forma, dito desta maneira,
sentido assim, tudo suaviza, pacifica, concilia com a sensação leve de viagem.
É certo que sempre foi um caminho, um percurso individual mesmo quando colectivo porque é de todos, um percurso de altos e baixos, de curvas e contracurvas.
Mas
dizerem isto assim, deu-me outra consciência, a plena noção de que não tem de
ser necessariamente mau, doloroso, angustiante. Que não temos que ficar vazios
dos outros, quando afinal fomos por eles tão preenchidos.
Como
quem agarra uma onda, aprisiona-a na mão fechada, vê-a, sente-a a escoar-se por
entre os dedos, não morre, simplesmente fica de nós cada dia mais distante.
É
a transição do que somos, o aqui e ali onde paramos, ficamos, dando,
partilhando e depois seguimos viagem.
Há
quem tenha uma meta e a persiga na tentativa de a tocar. Há quem simplesmente
prefira o viver, no prazer da viagem sem projectar mais além o objectivo de
chegar porque sempre acabamos por chegar a um tempo, a um lugar. O enigma
torna-se a grande e por vezes maravilhosa surpresa da passagem por locais,
pessoas, a incógnita das vivências que todos nós conhecemos em qualquer momento
da vida.
Partimos? Acredito, ou melhor preciso
de acreditar que não, só se nos esquecermos, só se formos esquecidos, só vamos ficando
cada vez mais distantes…