O outro será sempre o outro porque não é eu.
E eu sou diferente do outro, por vezes, demasiadas vezes lhes indiferente. O
outro, esse que julgo, que me julga. Que se sente melhor, ou até mesmo
superior, e não sinto isso eu também? Então critico, sou criticada e nesse jogo
de desresponsabilização cresce feroz um ego magoado ganhando nome: Aceitação.
Porque no fundo, mesmo que bem lá no fundo, só queremos ser aceites, tal como
somos. Nas coisas semelhantes, mas sobretudo nas diferenças. Afinal que culpa
temos, dos genes que herdámos, das células que nos definem, da sociedade que
nos moldou, do bairro onde crescemos, dos bolsos vazios, dos sapatos rotos, do
ar desalinhado. Quem nos olha com o coração de ver e vê a alma pura e límpida
que temos?
Adultos, jovens, crianças, vidas escritas a
cada passo, por cada sim, por cada não. Então alguém ousa perguntar aos mais
jovens o que têm de negativo os adultos. “O seu egoísmo e individualismo, o seu
gosto mórbido pelo dinheiro, pensarem que já sabem tudo, a falta de esforço
para entenderem os jovens e os seus problemas, a negação quase sistemática ao
diálogo”. É a vez de fazer colocar esta mesma questão aos adultos na relação
com os mais jovens, não vale a pena referir o que respondem, é uma quase
perfeita cópia do que os jovens disseram sobre eles. Estranha esta coincidência
de opiniões, ou talvez não.
A grande diferença é que os jovens acusam os
adultos de já não sonharem. Enquanto os adultos acusam os jovens de ainda não
terem aprendido a sonhar.
Falta fazer a ponte, seja qual for a
distância. Falta dar o passo em direcção ao outro e compreender definitivamente de que para o
outro, nós somos é que o somos o outro.
Falta reconhecer o percurso da felicidade no
exercício da liberdade individual e colectiva e compreender que “A Liberdade
consiste em fazer tudo que não prejudica os outros” (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão).
Porque o outro será sempre o outro, que um
dia encontre em si o Eu.
Por fim, falta que uns não percam a capacidade
de sonhar e que outros a encontrem muito em breve.
Sem comentários:
Enviar um comentário