-
Olá, onde estás? Lembro-me de nós quando
o tempo pára por instantes numa longínqua recordação. A pergunta eleva-se
no pensamento, e o silêncio é a única e dolorosa
resposta. Por tudo o que se passou entre nós, porque naquele momento se
acreditou que o tempo era infinito. Que tudo podia acabar e recomeçar vezes sem
conta. Que tudo estava bem, ou iria ficar, tudo era nosso e o futuro era uma
estrada florida à nossa espera.
Porque
fazia parte de mim e porque depois de
tudo se tornou uma ausência? A dada
altura adquire-se a noção de que um pouco do que se é, a determinada altura se
perdeu algures pelo caminho.
-
Olá, onde estás? Tenho ainda o teu
número mas nem vale a pena ligar, de certeza que já não é o mesmo. De certeza
que já não somos os mesmos. Há coisas que são de um lugar, que são de um tempo,
de um momento e que por mais que tenham sido bonitos, já não voltam. Não podem
voltar, até porque mudámos, crescemos e a beleza que víamos, que sentimos naquela altura é tão diferente da
que hoje conseguimos ver e sentir.
Perdemos a ingenuidade, trocamo-la pela “maturidade”, repetimos como forma de
reconforto. Mas, não sei, não sei se não trocaria toda a aprendizagem, todo o
viver, por toda aquela doçura, por toda aquela ternura que nos dá o acreditar, o sonhar. Por aquele brilho do
olhar, por aquele sorriso espontâneo, por toda a esperança, por toda a ilusão,
por todas as sensações que nos fervilhavam no coração.
-
Olá, onde estás? Quem sabe feliz,
quem sabe infeliz, será que ainda te
lembras de mim, será que tens saudade de nós? Será que também te perdeste de
quem eras, será que amadureceste, envelheceste, que as rugas apagaram o teu
sorriso que ainda recordo menino, será que o teus olhos ainda são sois e à noite
luares, será tens o mesmo forte abraço, será que ainda acreditas e fazes os
outros acreditarem que o mundo é um lugar perfeito?
-
Olá, onde estou? Será que alguma vez te perguntas?
Estou
aqui, aparentemente tão perto, certamente tão longe do que fomos. Lembro-me de
ti, lembro-me sobretudo de nós e tenho saudades, infinitas saudades de mim de quando
eramos entusiasticamente e candidamente nós.