Há
coisas que nos parecem tão óbvias que quando não acontecem nos deixam sem rumo,
sem palavras, sem sonhos, quase que sem chão. Tornam-se miragens, tornam-se
utopias, fantasias, histórias que o vento nos contou mas como era do vento, no
vento voou sem se concretizar.
Incrédulos
por ver o navio passar, por observar aquela nuvem a desvanecer-se, por sentir a
hora a completar-se sem o despertador das coisas boas que podem acontecer,
tocar nas nossas vidas.
Pousa-se
a mão cansada de acenar, no que era um olá mas que se transformou em um adeus.
Param-se os passos que outrora correram impulsionados pela esperança. Cala-se a
voz depois de ter dito todas as palavras que ninguém escutou.
Que
fazer? Inspirar-se nas páginas dos jornais, gritar, apontar uma arma, atirar
âncoras que prendam ao fundo do mar, amarrar um corpo para que fique igualmente
prisioneiro o coração? Ser mais um a tornar-se notícia de um “crime passional”?
Não,
mil vezes não, abençoado anonimato de quem age com alma branda, com
desprendimento, recolhimento, aceitação; com dor, sim dor, porque sempre dói a
perda, mesmo que seja o fim do que no fundo, só em nós começou, só em nós
existiu.
“Talvez numa outra vida”, diz-nos uma voz interior que não nos quer roubar a uma última
centelha de alento. “Sim, quem sabe”,
repetem os lábios num sussurro esbatido de eco cada vez mais longínquo.
Ao
meter as mãos nos bolsos, não procura nada neles mas encontra uma última
recordação do seu querer, uma concha, aquela que recolheu na praia onde
idealizou que caminhariam lado a lado, de mãos entrelaçadas por um futuro
luminoso, devolve-a ao areal, quem sabe ela tenha mais sorte e encontre algures
o complemento da sua existência.
Quanto a si, vai repetindo até que a memória lhe
roube as células da lembrança, “talvez numa outra vida”….