O que se passa no interior de uma lágrima? Que
ondas, que vendavais, que portos sem-abrigo, que cais sem esperança, que
remoinhos de dor. Que saudades, que lembranças. De que caminhos vem cansada, de
que sonhos vem abandonada.
Será uma gota de orvalho, caída das noites
claras? Será o fechar de olhos do luar por saudades do luminoso sol? Será geada
que estremece o inverno? Será a falta daquele quente e terno abraço que a copa
das árvores aos ninhos se esqueceu de dar?
É tudo isso, é muito mais, é um retalho do
que somos que ao morrer cai, é uma lágrima de vida que anseia por ser vivida.
E na transparência que nos ofusca, esconde o
que lhe vai na alma, o que lhe vai no corpo. Na sua densidade, na sua
imensidade, e no entanto, parece vazia. É o que pensam os que lhe dedicam apenas um ligeiro observar.
Mas não, olhem bem, aproximem-se,
atrevam-se a tocar-lhe com o olhar, escutem-na, ela tem tanto para contar. Mas permanece muda, num deslizar quase
secreto, de quem nasceu e viveu, apenas e sempre para ser discreta.
Há
água, apenas água, na sua composição, dizem outros sem grande pesar, esses que
não lhe auscultam o coração, esses que nunca lhe estendem a mão, que a deixam
sem compaixão, deslizar e cair desamparada no chão.
Pessoas, talvez, também com as suas lágrimas.
Pessoas que nunca se sentaram ao seu lado, que não a atenderam, que nem sequer
por ela pararam. E ela segue o seu destino, de serenidade, de missão cumprida. Um destino que talvez
tenha sido de amar, cuidar, entregar-se a esse querer e acordar, algures, só no
amanhecer…
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