A
Primavera já espreita pela janela, vem cheia de luz, de cor, de perfumes
florais. Inunda-nos o olhar, invade-nos os pulmões com um ar leve e esvoaçante.
Por ela dançam-nos os pensamentos, renascem os mais ternos sentimentos.
O
Inverno com o seu ar entristecido, quem sabe por se sentir preterido, acena
ventos de despedida, o frio suaviza e descongela-nos o querer, e queremos,
queremos com a maior ansiedade, despir o casaco, as camisolas grossas e
mergulhar em pleno numa planície de girassóis, de papoilas, de açucenas, de
alecrim e alfazema.
Precisamos
desse céu límpido de nuvens outrora carregadas com tantas e magoadas águas.
De
repente num voo rasgado de esperança surge uma andorinha, depois outra e mais
outra, vêm felizes anunciando a chegada da nova estação. Incrédula, baixo o
capuz, solto o cachecol, apuro o ouvido, perscruto o horizonte, é verdade, a
Primavera está a chegar! Rejubilam-me os sentidos, correm-me os passos sem sair
do lugar e vão através do imaginário explorar caminhos floridos. Estendo as
mãos, quase, mas apenas quase acaricio as brandas pétalas, eis que inesperadamente
majestosas gotas de água caiem sobre a terra, contrariando o antecipado
festejo. Por instantes sinto que vou ceder à tentação de juntar a chuva do
olhar à chuva do céu, mas logo de seguida o coração sorri, “é só por hoje,
amanhã, uns dias mais…”
Em
breve, muito em breve a Primavera chegará e ficará durante o tempo que
quisermos que fique, em presença ou em recordação, até lá fica-nos a certeza
que ela vem, que já espreita pela janela.