Este verbo “esperar” que nos é por
vezes tão doloroso, de ansioso, de
querido. Um querer que ultrapassa a vontade e se torna desejo. “Felizes aqueles que esperam” li
outro dia num livro peculiar, que fala de espera, uma espera que nunca se desalenta.
Que revela um tempo infinito mas que na
sua real finitude diz-nos que se chega lá, devagar…, depressa…, num tempo que
sendo nosso, na realidade, não nos
pertence, não o podemos manipular
segundo as nossas opções de vida, a nossa vontade de obter aquele momento,
aquele instante que nos surge mágico na beleza que tem ou na que lhe imaginamos
depois de tão demorada espera.
Mas chegar lá nem sempre significa
obter o fruto do nosso querer, essa tal magia nem sempre acontece. Então que
fazer, desistir? Não! Continuamos à espera,
mesmo quando só a sabedoria popular nos anima “quem espera sempre
alcança”. Ainda que demore, demore muito, por vezes tanto, demasiado mesmo que
o pensamento esquece, que o coração arrefece, que o sonhar adormece em cada dia
que amanhece e nada, mas mesmo nada acontece. Então começamos a acreditar
noutra expressão popular que cada vez mais ganha sentido “quem espera
desespera”.
Claro que não é essa espera que o
livro descreve, ele fala de uma espera da qual nunca se desiste, porque a
esperança nos diz que vale a pena esperar, porque até a espera é consoladora, faz-nos
companhia nas horas passadas e nas que chegarão em breve.
E assim se vive, por vezes uma vida
inteira, numa espera que não é acomodação, que não é de desistência, falta de
objectivos, fraqueza de carácter, até para esperar, é preciso ter coragem, é
necessário lutar e lutar muito, contra a descrença, a nossa e a dos outros que
nos aconselham a deixar essa espera e a seguir, talvez para outra espera. No
entanto já nos habituámos a esta, já a acomodámos no peito, já dorme
aconchegada no nosso abraço, já sonha connosco os mesmos sonhos…
Com abandoná-la, como edificar
outra e esquecer esta, quando ela sempre nos foi a expectativa de uma estrada,
de um reencontro, o vislumbre de um sorriso por entre a penumbra da noite, que
sempre nos foi a eterna espera de uma chegada.