Costumam
dizer que falar muito com poucas palavras é próprio da poesia. Mas há que enquadra-las,
harmoniza-las, humaniza-las. E também dar-lhes asas, solta-las ao vento e ter a
certeza que o seu voo nunca será uma partida mas sempre um regresso. Uma
chegada que recebemos, recolhemos, para lermos, saborearmos e sentirmos em
momentos que delas precisamos para nos preencher o vazio de outras palavras que
já tardam.
Serão
talvez, estas apenas substitutas dessas outras, dizendo algo que pode ser
sentido, porque tem real sentido. Palavras que condensam uma verdade que nos guia e nos define
enquanto ser emocional.
Mas
no fundo não é preciso dizer muito, nunca
foi, basta dizer o essencial, deixar no horizonte das palavras a porta aberta
para que outras a elas se venham juntar
numa relação feliz e quem sabe até geradora de novas palavras na construção de um caminho comum, feito por lugares de paz,
lugares de harmonia. Há quem considere as palavras ambíguas, passiveis de
múltiplas leituras, há quem as acuse de se esconderem com receio da
frontalidade, da verdade. É possível, tudo é possível, porque são lidas com
diversos feixes de emoção. As palavras podem revestir-se de alguma opacidade
abrindo a porta a múltiplas vias de interpretação, até porque elas serão sempre
a conjugação do que somos, desse passado que nos fez crescer com personalidade
e valores educacionais concretos. De um presente trilhado por cada dia, por
cada hora, em cruzamentos, encontros e desencontros de horas solares, de nuvens
que nos fazem companhia em ondas de diferentes (a)mares.
Não
desvalorizem as palavras, ela são um
composto de letras dispostas segundo uma objectiva intenção. Elas têm sempre
algo para dizer, são um depósito de sensações, são braços que se estendem quando
as lemos e encontramos nelas um elo de cumplicidade, recebemos então esse abraço
que há tanto tempo espera por ser dado,
lido, compreendido e quem sabe, igualmente abraçado...