Júlio Resende (1917-2011) |
“Não teve tempo para pintar o canto dos melros”. Que ecoariam numa sala de estar, oferecendo-lhe uma luminosidade primaveril, enquanto lá fora a chuva desenha rios na vidraça. Enquanto a neve cobre de branco a copa das árvores. Os melros, cantariam, alheios à mudança das estações, celebrando a vida, fosse qual fosse a sua dimensão temporal.
Não teve tempo para os pintar, mas sonhou-os, sentiu-os, ouviu-os a dançar nos seus sentidos. Enquanto a mão parada esperava o alento da inspiração, para deixar na tela branca, a harmonia das cores, dos traços entrelaçados que ganham forma, sentido e alma.
Nós que ainda temos tempo, devemos à vida a homenagem de a olhar, de a sentir. De desenhar em nós a sua esplendorosa beleza. Se nos faltar o talento, pintamos com o pensamento. Se nos trair a mão na delicadeza do traço, fixamos esse encanto no coração. Mas não nos recusemos a pintar só por falta de aptidão, porque a natureza oferece-nos a cada momento, delicados quadros, cuja perfeição nos impele a que fiquemos apenas a admirá-los.
Nós ainda temos tempo de pintar os melros, os desejos, os sonhos…
Não sendo particular admiradora da pintura de Júlio Resende apreciei a homenagem, e a mensagem. A partida de alguém traz-nos sempre essa noção de finitude e que não devemos deixar a vida passar em vão. Bjs Amália
ResponderEliminarGosto da pintura quase infantil de Júlio Resende, traços duma estranha ingenuidade que nos surpreende e cativa. Obrigado pela lembrança. José
ResponderEliminarNão é um pintor que conheça com grande profundidade, mas despertou-me a curiosidade e fui ver alguns dos seus quadros, gostei. Mas não tanto como das pinturas que fazes com as palavras, que se soubesse pintar, pintava.
ResponderEliminarNão teve tempo, ou melhor teve todo o tempo que a vida lhe deu, não pintou o canto dos melros mas tal como diz deve-o ter sentido. Pobres ficámos nós sem esse quadro, sem esse canto que se silenciou. Uma bonita homenagem, ao pintor e à vida. Um abraço. Antero
ResponderEliminarNão devemos prender-nos à angústia do que devíamos ter feito, mas irmos fazendo o que temos vontade e inspiração para fazer, com alegria, apreciando cada momento e se não pintarmos “o canto dos melros”, podemos dedicar um pouco do nosso tempo para os ouvir a cantar na natureza. Sandra B.
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