O mundo tal como o vejo causa-me dor. Já não se sonha porque não se dorme. Já não se tem esperança a não ser quem é criança. O amor já não se dá em vez disso exige. E mesmo quem gosta de nós quer que sejamos aquilo que precisam. Já não há diálogo, mas muitos monólogos. Já não há a verdade comum, cada um tem a sua.
E as ruas em que cada um
prossegue são de sentido único, sabe-se lá para onde. Sabe-se lá de onde. Quem
me dera saber onde tudo perdeu o sentido. Onde ficou o coração perdido. Onde o
olhar ficou sem norte. E tudo se tornou uma fuga para a sorte. Quem me dera ir
ao encontro desse desencontro e quando lá chegar, criar raízes que o vento não
consegue arrancar.
Meto a chave na porta,
respiro o ar das paredes, o coração ameniza-se, cheguei ao meu lar. O cão salta
em meu redor, baixo-me, ele lambe-me o rosto. Há uma pureza, uma humildade nos
animais de estimação que nós, humanos, há muito perdemos.
O mundo continua a ser
feio com coisas belas. Cheio de portas fechadas e olhares a espreitar pelas
janelas.
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