Às
vezes, cada vez menos, ainda me pergunto se me lês, se me vês, se me sentes, se
me ouves nas palavras que te escrevo. Mas a escrita vai ficando cada vez mais
só, mais intima, mais eu, aqui, onde quer que esteja, onde quer que estejas. É curioso pensar que não é a distância que
nos separa, mas a nossa vontade, ou a falta dela. Escolhas que fazemos a cada
passo que damos. Hoje, vou por aqui, porquê? Não sei, para ser diferente, para
não me cansar de fazer sempre o mesmo, de ver os mesmos rostos anónimos, porque
me cansa o que não sei. Apetece-me perguntar, quem és? O que fazes? És feliz?
Tenho inveja da senhora que se senta no lugar da frente e que vai sempre, quase
impulsivamente escrevendo frases, soltas, pensamentos, sonhos, desejos,
desabafos. Cresce-me a curiosidade, quase, quase lhe pergunto o que escreve,
mas paro a tempo desta decisão, não quero interromper, corromper a sua
inspiração. Há quem diga que escreve sobre nós, sobre cada um de nós, as
sensações que lhe deixamos, as criticas, as queixas. Não acredito, vejo-lhe o
olhar distante, mergulhado em si. Escreve numa ânsia desmedida, numa inspiração
incontrolável. Escreve, para si, para os outros. Tal como eu escrevo, cada vez
mais para mim, já sem sequer me questionar se também escrevo para ti. Podem
dizer que é triste, que nos dá solidão, talvez tenha começado assim, mas de
repente, ganho consciência da liberdade que ganhei, sou livre, posso escrever o
que me apetece, porque tu, meu leitor não estás aí!
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