Talvez a o crescente da idade nos faça
ganhar consciência de como tudo é efémero. Temos o hoje, o agora, o depois,
sabe-se lá…
Sabemos apenas que se vai embora, não chega a ser uma partida, tão
pouco uma despedida, é um processo quase linear. Não me lembro de me aperceber
desta mudança, mas de um momento para o outro, dei-me conta de que é imparável,
irrepetível, o passar do tempo com toda a panóplia de cores, de sons, de
acontecimentos, de movimentos.
O tempo, sinto-o como água que me escorre por
entre os dedos por muito que os una e aperte, quando os abro já nada resta da
água que escoou.
Há quem fique a apreciar essa cascata, eu não tenho tempo para
apreciações, divagações, quero viver o hoje, desde o seu despertar até ao
adormecer. Quero senti-lo, abraça-lo, guarda-lo na memória, torna-lo eterno
dentro de cada neurónio.
Uma eternidade limitada ao meu horizonte vivencial, à
conjugação harmoniosa dos cinco sentidos.
O tempo, esse traiçoeiro amigo que
tudo nos oferece, que tudo nos sonega no momento seguinte. E nós gratos de tudo
o que nos deu para conhecer, para viver e nele crescer, perdoamo-lo por essa
falsa esperança de que todo o tempo é apenas criança e temos muito, muito mais
para ser.
Não nos podemos zangar com quem nos ensinou a caminhar, com quem nos
amparou as quedas, quem nos foi companhia e caminho, quem nos foi companheiro e
solidão, quem nos foi inimigo e irmão.
Se o tempo nos for curto a culpa não é
dele mas nossa que não lhe apreciámos cada instante, que não o vivemos de alma
e coração. Que corremos quando devíamos ter parado para o ver e sentir no seu
abraço longo e terno, denso e eterno.
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