Nos passos
encontro o caminho, escolhas de uma vida, escolhas que me escolheram. Talvez vá
porque outros foram, talvez vá só por ir. E quem sabe fique, e sem saber,
fiquei.
Foram passos, apenas passos, tantas e tantas vezes cansaços, sonhos
fracassos, mas foram passos do meu caminho. Era dia e fiz-me à estrada, depois
noite até quase de madrugada.
O sol encheu-me o peito, guiou-me, deu-me norte.
A noite, ai a noite que tudo encobre e sem ver nada tropeçamos na sorte,
trôpega de frio, trôpega de fome, entrego-me por fim no estranho abraço do sonho esperando que me seja sono, descanso.
O
chão é duro, mas o corpo dormente, adormece a dor e já nada sente. De repente
uma gota de água no rosto me desliza, pergunto-me se vem do coração, se me espreita
pelos olhos, mas percebo de seguida que o céu tem mais lamentações do que eu e
é ele quem chora ou será que me chora?
Ofereço-lhe as minhas lágrimas para as juntar às suas e como
irmãs elas descem a rua, dir-se-ia que vão felizes. Livres por terem sido finalmente choradas.
Também eu me sinto mais leve, e ninguém percebeu essa troca de águas
que tantos rostos molhou, quais eram as minhas, quais eram as vossas, sabe-se
lá... e isso que importa é apenas riacho, rio que mergulha no mar.
Pela primeira vez em tantos anos, uma doce e nova emoção dança-me no
peito, e sem saber o que chamar, chamei-lhe felicidade. Quando se tem pouco,
basta apenas o que se tem para se ser feliz…
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