Quando era jovem adolescente sentia que ganhava dias,
ganhava em aprendizagem, em crescimento, em desejos, sonhos, esperanças. Com o
passar do tempo a nossa noção de tempo muda, passamos a sentir que perdemos
dias, não porque sejam mal gastos, mas porque temos a sensação de que cada um
deles já não volta para o tornarmos melhor, para o vivermos com maior
intensidade, para o guardarmos como quem guarda uma bolacha para um momento posterior
em que tenha fome e não tenha nada mais à mão para forrar o estômago, para
aconchegar a alma. De repente é-nos imposto um exílio, ficar em casa, com medo
do vírus que invade as ruas e ameaça invadir-nos a nós. De repente separam-nos
dos outros, condenam-nos à solidão. Para os jovens é apenas um breve momento,
um de tantos… Como se fosse apenas uma estrela de tantas que há no céu.
Para os mais velhos a sensação é diferente, pode ser apenas
uma estrela mas escurece o seu céu, o dia torna-se curto e a noite longa. Uma
avó que perde o primeiro sorriso do neto, os primeiros passos, as primeiras
palavras, perde algo irrecuperável. As novas tecnologias podem gravar para
recordar, mas não substitui aquele abraço, o calor dos afetos, o cheiro da
familiaridade.
Há um vazio crescente no peito, há uma noite de angústias no
leito, faz-nos falta o estar, o sentir, o partilhar o corpo, a vida, a
esperança, a lembrança, a receita de todos os ingredientes que fazem parte de
nós.
O tempo, este tempo doente, vai longo. Há quem se pergunte e
nos pergunte, teremos tempo para voltar àquele tempo ou ficaremos demasiado
tempo neste?
A finitude tem momentos de infinito, estamos nesse impasse à
espera que esta crise passe.
Será que irá passar? Que sabemos nós do futuro, quando ainda
estamos a aprender a vivê-lo…
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