É difícil estarmos connosco, com os nossos pensamentos, com
os nossos lamentos, com os nossos sonhos, com os nossos pesadelos, com as
nossas preocupações, frustrações e medos. Precisamos fugir, escapar-nos de nós,
mergulharmos num vácuo que nos faça sentir leves e livres. Nessa fuga entramos
numa espécie de zen ocidental, esvaziamos os sentidos e deixamos simplesmente
de sentir.
Depois dos computadores, os telemóveis são um escape, uma
fuga para a frente, ou melhor para lugar algum, porque ficamos aqui com a
sensação de estar ali, seja onde for, é indiferente, pode ser em qualquer parte
do mundo. Deixamos o olhar perder-se em imagens que nos confortam, que nos
animam, que parecendo ser o vazio nos enchem de serotonina, a hormona da
felicidade.
É verdade, somos felizes, por ver sorrisos, por ver a
contagiante alegria dos outros. Crianças a brincar ou a disparatar, cachorros
oferecendo-nos gestos quase humanos de carinho, aventuras de quem ousa desafiar
a lei da gravidade, ou apenas, mensagens que nos fazem sorrir por fora mesmo
quando choramos por dentro.
Coisas importantes, coisas sem importância alguma. Que
lembramos para o resto da vida ou que esquecemos no momento seguinte. Mas por
breves minutos, por breves instantes, tivemos um encontro fortuito com a nossa
paz individual.
Entretanto, a viagem no transporte público chega ao fim,
está na hora de voltar à realidade, de voltar a nós…
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