A aventura de
regressar ao trabalho, de sair de casa, de viajar nos transportes públicos, de
encontrar rostos cobertos com máscara.
Cada dia
tornou-se uma descoberta do melhor e do pior. Digamos que uma larga maioria de
pessoas agia com respeito pelas novas regras do uso de máscara, uma maioria
mais pequena, pelo cumprimento do distanciamento. Mas diga-se em boa verdade
que por mais que tentássemos o distanciamento nos transportes públicos
revelou-se no avançar dos dias desta semana, uma cada vez maior
impossibilidade. Na carris e no metro, a coisa ainda corria bem nos primeiros
dias mas para o final da semana começou a instalar-se a confusão e a
involuntária aproximação, com estes transportes cada vez mais apinhados de
gente. Mas nota negativa desde a primeira hora recebe a Rodoviária de Lisboa
que anunciava regras de só transportar 2/3 dos passageiros mas a verdade é que
andava superlotada.
Mas falemos
das minorias, felizmente poucas mas merecedoras de destaque e quem sabe de um
estudo psicológico ou sociológico. Todos os dias os encontrava, todos os dias
tentava falar com eles, aprimorando o discurso para não ferir
susceptibilidades. Desde o jovem que no autocarro coloca a máscara para baixo
do queixo para mascar pastilha elástica e fazer balões, realmente é impossível
fazer balões com máscara, alguém que invente uma máscara para estas situações!
Mas do mal o menos, pedi ao jovem que colocasse a máscara e ele acedeu.
Há pessoas
que entram nos transportes com a máscara na mão em vez a ter colocada no rosto,
deve ser para a mostrar ao motorista, como se fosse a validação de titulo de
transporte. Depois alguém diz a outro alguém que coloque a máscara e a resposta
não se faz esperar – Em mim ninguém manda! Passando pela senhora ao lado de
quem me sentei e que vinha a falar ao telemóvel, mexia e remexia na máscara,
tentei perceber o que se passava e a constatei que a senhora tentava a todo o
custo baixar a máscara para melhor falar ao telemóvel, acabou por a colocar por
baixo do queixo. Fiz-lhe um gesto indicando para subir a máscara, deitou-me um
olhar fulminante. Pedi-lhe com bons modos que a colocasse, deitou-me mais um
olhar matador. Por fim disse-lhe, “Que não se preocupe com a saúde dos outros,
é egoísmo, mas entende-se, mas que não se preocupe com a sua saúde é suicídio”,
levantei-me e fui para outro lugar.
No dia
seguinte mais uma aventura e à minha frente sentou-se um jovem sem máscara. Lá
tentei falar com ele “Jovem a máscara?” Não me respondeu, mas não foi por falta
de educação, tinha os ouvidos ocupados com os fones e ouvia-se em fundo a
pseudomúsica que deles saia. Quando olhou para mim, aproveitei a oportunidade e
gesticulei (a máscara?), sorriu-me e disse “ – Esqueci-me dela em casa” e
mergulhou a boca e o nariz para dentro do blusão enquanto o olhar ficava
novamente preso ao telemóvel.
Mais um dia
mais uma aventura, desta vez sentei-me em frente a um homem, quando levantei o
olhar constatei que ele estava sem máscara colocada, lá pendia ela como um
brinco de pechisbeque. Sempre persistente na minha missão de
salvação/sobrevivência, disse ao homem, “- coloque a máscara se faz favor”.
Sorriu-me e nada fez. Insisti, “- É obrigatório podem passar-lhe uma multa” com
o mesmo sorriso de ironia, respondeu “- Sou rico, posso pagar”. Sem me abalar
com o discurso, tentei de novo, “-Se não se preocupa com a saúde dos outros ,
pelo menos pense na sua!”, o sorriso foi substituído por um olhar de
indiferença, “- Estou protegido, todas as pessoas têm máscara”. Desisti, que
fazer para mudar e responsabilidade de cada um?
Já agora, onde
pára a polícia? Essa que aparece nos noticiários, mostrando que cumpre e faz
cumprir as normas? Pois, é isso mesmo, é aí que estão, em frente às câmaras da
televisão, quando esta aparece para fazer uma reportagem, depois ninguém os vê.
Compreende-se, estão a manter o distanciamento de (quilómetros).
Perante isto
só posso pensar que se nos safarmos do ataque do Covid19 foi apenas por sorte.
Resta-me desejar que a sorte nos seja sempre favorável e ter a esperança que
apesar da falta dos comportamentos descurados de alguns prevaleça o respeito e
cuidado de muitos.